Se eu fosse Deus,
Criaria um destino para os homens...
Um destino que fosse feito de boas palavras...
Doce como sobremesa na infância...
E não amargo como o café antes do trabalho.
Criaria uma vida bela como a arte...
Com uma aventura para não ficar sem sal...
Mas onde todos têm o direito de serem felizes para sempre...
E não o direito de permanecerem calados, tristes e feridos.
Criaria um lugar onde a Tristeza seria esquecida...
Ou contada como uma lenda, à beira das fogueiras, para divertir as crianças...
Uma lenda confortavelmente distante demais para nos alcançar...
Seria uma velha agourenta, vivendo isolada de nós no alto de uma longínqua montanha...
Ironicamente acompanhada da outra velha Solidão...
Pois no meu mundo, ninguém seria só...
E todos iriam sorrir sem se esforçar.
Sorrir de verdade, porque pode e não porque deve.
Sorrir de dentro, porque é bom.
Lá, viver e morrer na felicidade e de felicidade seria comum...
E não um privilégio...
Um lugar onde a morte não seria desejada...
Como o encarcerado deseja as chaves de seus grilhões.
Nem temida como um apaixonado teme a distância de seu amor.
Mas simplesmente recebida. Simplesmente aceita com alegre conformação.
E as névoas do futuro não ocultariam abismos,
Mas jardins de jade e rubis...
Bibliotecas sagradas de conhecimento...
E uma tranqüilidade simplicíssima.
As pessoas não ficariam tristes e não sofreriam...
E a inveja ficaria presa nos muros de humildade e respeito.
Mas as pessoas continuariam sendo iguais como são.
Onde ninguém é melhor que ninguém, como é hoje.
Onde não existe pior nem melhor, como é hoje.
E talvez, depois que todos estivessem sorrindo...
Eu choraria, e daria meu primeiro sorriso.
E morreria feliz.