ie Likely Dark: Saudade...

Monday, April 18, 2005

Saudade...

É simplesmente incrível a nossa capacidade de criar laços e vínculos com pessoas e lugares, e talvez esse seja um dos motivos que nos faz acreditar que nós somos alguma coisa além do determinismo biológico.
A saudade também me fascina pela sua ambigüidade, pois é um sentimento que muitas vezes advém de algo bom, até mesmo porque eu gosto de vê-la como um sintoma do amor por alguém, algum lugar, algo ou alguma situação, e ainda assim a saudade nos traz tristeza.
É uma sensação ruim que nós simplesmente não podemos ignorar ou destruir porque está baseada em algo bom, numa astuta cilada da sra. melancolia.
O que mais dizer sobre a saudade? É a confirmação da impotência humana sobre o tempo. Num raciocínio lógico, é uma simples burrice; afinal, não há razões para se preocupar com aquilo que o tempo encerrou em suas mãos tão implacáveis.
Infelizmente, eu não sou um ser tão lógico assim.

E por isso, sinto saudade de pessoas, de lugares e de tempos.

Ainda acho que a saudade é um tipo de ganância, também. Ganância sobre o passado.
Muitas pessoas que já tiveram uma vida de fartura e prosperidade, quando a perdem, entram em quadros de depressão crônica e muitas vezes perdem a chance de restituir suas perdas graças à essa "saudade" dos bons tempos. Por outro lado, aqueles que não tiveram maiores riquezas acabam por ter problemas por sua ganância, que também pode ser vista como "saudade daquilo que nunca tiveram".

Mas é estranho ver como é mais fácil ser feliz sem ganância ou saudade.
No livro "As boas mulheres da China", a escritora disse que o único lugar onde as mulheres afirmaram ser felizes era justamente num lugar no qual ela presenciou uma das maiores misérias. As pessoas viviam numa caverna isolada, se não me falha a memória, dentro dum deserto. Não havia água suficiente ou contato com a civilização, e a infra-estrutura continuara próxima da medieval, se é que o termo é cabível. Em uma das famílias, três garotas dividiam uma única calça, revezando. Enquanto uma estava fora, as outras duas ficavam debaixo de um lençol para cobrir-se. E diziam ser muito felizes. Talvez pelo fato de não terem conhecido uma condição melhor para sentirem ganância ou saudade.

A parte reflexiva termina aqui.

E eu continuo com saudades de uma pessoa e de várias. E de estudar num lugar fantástico.

Beijos para a Vanessa, que eu tanto amo...
Abraços para todos que me trazem boas recordações...