ie Likely Dark: Na grande montanha-russa...

Sunday, April 03, 2005

Na grande montanha-russa...

Não sei se devo pôr em palavras tudo o que vem acontecendo na minha mente nos últimos dias, pois as palavras, por mais sinceras e puras que fossem, soariam ao meu julgamento pessoal de mim mesmo como pretensão obscena. As palavras ainda me fascinam... tanto poder, e ao mesmo tempo, tão pouca expressão da realidade. Não deixam de ser apenas símbolos, que nunca serão tão magníficos quanto seus significados. As palavras podem destruir milhares de vidas em poucos instantes mas nunca poderão explicar com precisão o amor, o ódio... Por isso, para mim, as palavras não passam de perigosas pretensões e não ficam aquém de poderosas ferramentas da humanidade...

Mas a minha admiração pelas palavras deu oportunidade ao nascimento de uma compulsão em reproduzí-las, e cá estou eu, exercitando meu mau-hábito de escrever.

Nos últimos dias, eu ardi no fogo dos sentimentos obscuros: solidão, raiva, frustração, medo, ciúme, ódio... E o pior de tudo é que não havia nada de errado.
Eu passei na prova da Aeronáutica, e vocês devem estar se perguntando o que me fez sentir-me tão mal que nem me lembrava de ter tido uma crise tão aguda anteriormente.

Talvez o fato de ter uma meta cumprida tivesse como imperativo a adoção de uma nova meta, e qualquer meta que eu admitisse agora seria dolorosa em algum aspecto da minha vida, e isso corrompeu minhas esperanças.

Mas talvez, como rege o princípio dos opostos, eu precisasse disso para voltar a mim. Para situar-me novamente, assim como o ferro necessita da fúria das brasas para ser modelado e fixar-se em uma nova forma, pois agora qualquer previsão em minha vida é de mudança, e nada mais correto do que uma adaptação. Acho que eu precisava questionar a mim mesmo mais uma vez, abalar minhas próprias estruturas para reconstruí-las mais resistentes.

Finalmente, achei novo ponto de equilíbrio (e mais palavras pretensiosas germinam no texto como ervas daninhas num jardim descuidado). Acho que finalmente estou aceitando o que o destino reservou para mim, embora ainda olhe para o futuro com o receio do desconhecido.

Paz, mais uma vez. Por quanto tempo? Não sei. Só sei que não é para sempre. Nenhuma paz é eterna, da mesma forma que nenhuma tempestade não deixa de conhecer seu fim, pois a essência da vida é a instabilidade e a finitude: nos altos e baixos, no veloz e no lento, na tresloucada montanha-russa da existência...

Abraços