ie Likely Dark: Ignorância que gerou mais ignorância...

Friday, December 10, 2004

Ignorância que gerou mais ignorância...

Aqui segue a fala do Arnaldo Jabor, do Jornal da Globo:

"O rock começou como canto à alegria e à liberdade, música de esperança numa era de utopias e flores. Aos poucos, a ilusão foi passando. Em 68, a esperança jovem foi sendo detida pela reação da caretice mundial. Os ídolos começaram a morrer: Janis Joplin, Jimmy Hendrix sumiram juntos. Na década de 70, o que era novo e belo se transforma nos embalos de sábado à noite e começa o tempo da brilhantina. Junto com a caretice dos Beegees, o que era liberdade cai na violência. Em Altamont, no show dos Stones, a morte aparece. Charles Manson é o hippie assassino e o heavy metal o punk vão glorificar o barulho e o ódio. Com a repressão de mercado mais sólida e invencível, a falsa violência comercial, sem meta, nem ideologia, fica mais louca e ridícula. Os shows de rock viram missas negras que lembram comícios fascistas. É musica péssima, sem rumo e sem ideal. A revolta se dissolve e só fica o ódio e o ritual vazio. Hoje, chegamos a isso, a essas mortes gratuitas. A cultura e a arte foram embora e só ficou a porrada. "

É incrível a capacidade da mídia de insistir em enquadrar o rock, o metal e seus respectivos admiradores numa atmosfera obscura de satanismo, insanidade, incoerência, mal gosto, barulho e entorpecimento. E o pior de tudo é que o metal está se provando, cada dia mais, ser um tipo de música mais racional do que a acefalia de alguns dos temas, dentre eles o mais gritante "Éguinha Pocotó", que não carrega nenhum valor, tanto como composição quanto como temática.

Recentemente, ganhei o CD "The Human Equation", do Ayreon. A banda faz um metal progressivo, o que já é digno de reconhecimento, visto as exigências do estilo (aliás, o prog é o estilo rock mais esquecido pela mídia... será que não é exatamente pelo fato de ele ser a prova cabal da capacidade técnica do rock?). Na temática, temos um drama de vida de um homem numa cama de hospital, em estado de coma. Ele tem que confrontar seus sentimentos e suas memórias, retratar seu passado e questionar a si próprio, numa viagem maestralmente tecida num viés psicológico e reflexivo, bordado numa base rítmica e melódica que engloba também musicalidades diferentes, instrumentos exóticos e interpretações vocais teatrais e técnicas ao extremo. É uma epopéia do bom gosto e da técnica (aliás, Hugo, o James LaBrie participa).

O Rhapsody é uma banda que retoma temáticas medievais e consegue transpô-las na sua música com muito talento. O Nightwish demonstra seu talento unindo o pesado com o clássico. Essas bandas não são ícones para muitos bangers, mas são provas de que o metal tem muito mais qualidade e cérebro do que outras porcarias que são idolatradas pela Globo. Acho muito difícil que o Arnaldo Jabor consiga encontrar o ódio e barulho nas canções épicas do Rhapsody ou na doce voz da Tarja Turunen.

Além disso, é uma grande falta de ética e respeito com o Dimebag, pois é dizer que ele simplesmente sofreu aquilo que ele infligiu, que o que aconteceu com ele foi culpa dele próprio e reflexo de seus atos e, principalmente e o mais revoltante de tudo, de sua música.

Certamente, não foi a música que levou aquele idiota a atirar no Dimebag. Com certeza, o sujeito deve ter problemas mentais, psicológicos e sociais (e por que não dizer sexuais, só pra xingar o babaca!?). Também não me assustaria se publicassem que o cara estava drogado. Mas aí diriam que o metal induz às drogas e à violência, novamente...

Mas eles não irão dizer que nos bailes funk já se registrou mais de 400 mortes... Quantas mesmo tinha o rock?... Se chegar a dez por ano é demais.

E o carnaval? Alguma vez eles disseram que o carnaval é a época do ano em que o consumo de drogas mais que triplica, e que é o tráfico que financia a pornografia gratuita (aliás, no último Rock In Rio de verdade (por que aquilo em Lisboa foi uma piada), tentaram prender o coitado do cara do Stone Temple Pilots por que ele não entendeu o recado das pessoas nuas no carnaval, e ainda tentaram, mais uma vez, culpar o rock... disseram até que nudismo era comum nesse meio... faça-me o favor!).

Presto aqui minhas homenagens ao Dimebag. Nunca fui extremamente ligado ao Pantera, e nem sequer conheço o DamagePlan, mas o talento desse inesquecível guitarrista está registrado para sempre em músicas como Walk, Hellbound, etc...

Stay Metal... Stay Heavy...